“annus horribilis” e Michael Brooks

Em termos pessoais este ano tem sido, até agora, um ano horrível.

Desde situações pessoais passando por problemas familiares, este ano parece trazer tudo o que é problemático ao de cima. E as situações parecem não ter resolução à vista.

Acrescentando a isto o que está a acontecer mundialmente, este ano está mesmo a ser um ano mau — muito mau.

E quando pensava que não poderia ser pior, foi com choque que comecei a ver as notícias do falecimento inesperado de Michael Brooks, com 36 anos.

Muito pouca gente conhece Michael Brooks, presumo. Ele era um comentador político, foi autor do livro Against the Web: A Cosmopolitan Answer to the New Right, apresentador do seu «The Michael Brooks Show», co-apresentador do «The Majority Report with Sam Seder», e contribuidor para a «Jacobin Magazine».

Ele entrou no meu radar através do «The Majority Report» e acompanhei o crescimento do seu próprio programa no Youtube. Rapidamente ele ganhou o meu respeito. Sem dúvida uma pessoa informada e inteligente, com muito humor, era acima de tudo uma pessoa curiosa sobre política de esquerda e um humanista. Foi com ele que a minha visão e conhecimento das condições políticas internacionais de esquerda, e a sua história, se amplificou.

E o que tornou Michael Brooks ainda mais especial é que ele representava aquilo que eu chamaria de «nova esquerda», uma esquerda com um pensamento humanista, internacional, orientada para a justiça, capaz de estar «taco-a-taco» com a retórica dominante, com um espírito de emancipação e inclusão de temas, que pareceriam à primeira vista conservadores, para o seio do discurso contemporâneo da esquerda (temas como por exemplo o da espiritualidade na esquerda, ainda que ele se afirmasse materialista), e sempre atento ao que acontecia no mundo (nomeadamente o chamado «Sul Global»).

Ora, para mim, tal como aconteceu com o falecimento de Mark Fisher (em 2017), o seu falecimento veio como um balde de água fria. Foi um choque. E o mundo ficou com um buraco insuturável.

Mas este buraco, esta brecha que fica, ainda que irreparável, deve possibilitar — tem de possibilitar — o impossível; esta brecha deve possibilitar — tem de possibilitar — como Leonard Cohen cantou, «deixar a luz entrar».

Que esta tragédia nos ajude a deixar a luz entrar!

Rest In Power, Michael Brooks.