A confirmação do viés de confirmação

O viés de confirmação é uma distorção cognitiva que se baseia na tendência que temos de justificar e confirmar as nossas opiniões e mundovisão.

Esta confirmação pode ser tão forte, que mesmo frente a informações que ponham em causa essas mesmas opiniões e mundovisão, nós somos capazes de justificar e montar uma resistência em defesa delas.

Do ponto de vista cognitivo este viés é inescapável. E se é inescapável, isso quer dizer que é uma condição humana — uma condição existencial.

Não podemos fugir ao facto existencial que, do ponto de vista simbólico, a selecção é um dos factores essenciais do sentido. Nós estamos constantemente a selecionar e a produzir sentido. É isto que o espaço simbólico faz. É isto que o espaço simbólico permite.

É esse redemoinho concêntrico e paranóico das constantes justificações e razões sobre porque algo é da maneira que é, que mantém e justifica a sua posição, aonde somos confrontados com tanto o ridículo, como o assustador, como o sublime.

Ridículo na medida em que nós, enquanto putativos observadores externos e achando-nos acima do paranóico, vemos o contorcionismo e a crescente força do seu próprio encerramento. Vemos o fechamento de possibilidades alternativas. Do fechamento de um algo novo, um novo que pode mudar o paradigma.

Assustador porque apenas estamos dispostos a ser engolidos pela máquina da selecção enviesada de sentido.

E sublime porque nos mostra como somos pequenos em relação à pressão simbólica de selecionar e produzir constantemente. Nós confirmamos a confirmação. Redobramos o seu motif em si mesma. Reduplicamos a selecção. Fechamos estruturalmente o campo das possibilidades. E não podemos senão fazer isso.

O estarmos cientes disto não nos coíbe de ser enviesados, e não nos coloca, como num passo de mágica, fora do circuito simbólico. Saber isto coloca-nos, acima de tudo, atentos ao ponto de fuga, esse tal ponto cego que estrutura e foge da entrada daquela informação que a pode mudar.